Antigamente conhecida como urticária crônica idiopática, a UCE (Urticária Crônica Espontânea) é uma doença caracterizada pela ocorrência diária ou quase diária de urticas e/ou angioedema por um período maior do que 6 semanas, sem que estes sejam causados por alimentos, cosméticos, produtos de limpeza ou qualquer outro fator externo.
O que são urticas e angioedema?
As urticas (escritas com C, e diferentes das urtigas com G, que são plantas) são lesões em alto relevo na pele, geralmente rodeadas por uma borda avermelhada, que coçam intensamente1, 2, a ponto de fazer com que o paciente não consiga mais dormir ou exercer suas atividades diárias normais, como trabalhar, estudar, passear, namorar, etc.3-5 As urticas têm uma característica bastante peculiar: elas permanecem no mesmo local por no máximo 24 horas, reaparecendo depois em outras áreas do corpo. Isso dá a sensação para alguns pacientes de que elas estão se movendo pelo corpo.1, 2
Já o angioedema é um inchaço das camadas mais profundas da pele, mais associado à dor do que à coceira. O angioedema pode aparecer em qualquer parte do corpo, mas traz mais impacto quando se manifesta no rosto, pois deforma significativamente a aparência das pessoas afetadas e causa, além da dor, muito constrangimento. O angioedema aparece muito rapidamente, em minutos, e some em até 72 horas, reaparecendo ou não em outras partes do corpo.1, 2
As pessoas com UCE podem ter somente urticas, ou somente angioedema, ou urticas e angioedema ao mesmo tempo.6
Qual a diferença entre urticária e UCE?
Na urticária, muitos fatores externos como cosméticos, medicamentos, alimentos, produtos de limpeza podem causar os sintomas como urticas e angioedema. A grande diferença é que na UCE (Urticária Crônica Espontânea) as lesões aparecem espontaneamente. Isto é, a UCE não é causada por nenhum desses agentes externos, e sim pelo próprio organismo.7, 8
Como muita gente ainda desconhece a UCE, não é raro que pacientes com a doença busquem continuamente a suposta “causa” das lesões na pele, privando-se desnecessariamente de muitos alimentos, cosméticos, medicamentos e modificando significativamente seus hábitos de vida. Às vezes ainda se culpam pela doença, e ficam com aquela sensação de que “o que foi que eu fiz dessa vez”.6
Outro fator que traz muito impacto na qualidade de vida das pessoas com UCE é que as urticas e o angioedema aparecem de repente, sem aviso, tornando a doença imprevisível e acarretando em diversas frustrações para os pacientes… Viagens canceladas, ausências em reuniões importantes, e por aí vai.3-6
UCE: muito além de uma questão de pele
Como falamos acima, a imprevisibilidade das crises de UCE impacta demais a vida dos pacientes, podendo levar a um estado mental de ansiedade e até depressão. Por isso, embora o efeito visual das lesões possa de fato impressionar, a UCE está longe de ser uma doença predominantemente “estética”.9
O impacto da urticária crônica espontânea na qualidade de vida dos pacientes é devastador6, sendo mais alto que o de outras doenças dermatológicas até mais conhecidas, como a hanseníase (lepra) e a psoríase.5 A UCE afeta inúmeros aspectos da vida dos pacientes, incluindo os relacionamentos pessoais, familiares e sexuais, levando a um isolamento social significativo – além dos sintomas como coceira, dor e a consequente privação do sono.3-6, 9 Justamente por isso, é comum os pacientes dizerem que “a UCE não mata, mas tira a vida da pessoa”.
Mas é possível viver bem, livre dos sintomas da UCE? É sim, não desista
O desconhecimento sobre a UCE é tamanho que 67% dos pacientes desistiram de procurar ajuda médica e a maioria acredita que os médicos não podem mais ajudá-los.10 Mas isso não precisa ser assim…
O sucesso no tratamento da UCE (Urticária Crônica Espontânea) significa viver sem sintomas da doença.8 Ter acesso a informações e fazer acompanhamento com um especialista (alergista/imunologista ou dermatologista) são fundamentais para atingir esse controle total da UCE.
A boa notícia é que 92% das pessoas com UCE conseguem viver sem nenhum sinal ou sintoma doença quando recebem o tratamento adequado.11
Referências
1. Zuberbier T, Aberer W, Asero R et al. The EAACI/GA(2) LEN/EDF/WAO Guideline for the definition, classification, diagnosis, and management of urticaria: the 2013 revision and update. Allergy 2014;69:868–87.
2. Giménez-Arnau AM, Grattan C, Zuberbier Tet al. An individualized diagnostic approach based on guidelines for chronic urticaria (CU). J Eur Acad Dermatol Venereol. 2015 Jun;29 Suppl 3:3-11.
3. O’Donnell BF, Lawlor F, Simpson J, Morgan M, Greaves MW. The impact of chronic urticaria on the quality of life. Br J Dermatol. 1997 Feb;136(2):197-201.
4. Kang MJ, Kim HS, Kim HO et al. The impact of chronic idiopathic urticaria on quality of life in korean patients. Ann Dermatol 2009;21:226–9.
5. Silvares MR, Fortes MR, Miot HA. Quality of life in chronic urticaria: a survey at a public university outpatient clinic, Botucatu (Brazil). Rev Assoc Med Bras (1992). 2011 Sep-Oct;57(5):577-82.
6. Maurer M, Weller K, Bindslev-Jensen C et al. Unmet clinical needs in chronic spontaneous urticaria. A GA²LEN task force report. Allergy 2011;66:317–330.
7. Kaplan AP. What the first 10,000 patients with chronic urticaria have taught me: a personal journey. J Allergy Clin Immunol. 2009 Mar;123(3):713-7.
8. Zuberbier T, Aberer W, Asero R et al. The EAACI/GA²LEN/EDF/WAO Guideline for the Definition, Classification, Diagnosis and Management of Urticaria. The 2017 Revision and Update. Allergy. 2018 Jan 15.
9. Vietri J, Turner SJ, Tian H, Isherwood G, Balp MM, Gabriel S. Effect of chronic urticaria on US patients: analysis of the National Health and Wellness Survey. Ann Allergy Asthma Immunol. 2015 Oct;115(4):306-11.
10. Maurer M, Staubach P, Raap U et al. ATTENTUS, a German online survey of patients with chronic urticaria highlighting the burden of disease, unmet needs and real-life clinical practice. Br J Dermatol 2016 Apr;174(4):892-4.
11. Kaplan AP. Therapy of chronic urticaria: a simple, modern approach. Ann Allergy Asthma Immunol. 2014 May;112(5):419-25.